terça-feira, 25 de outubro de 2011

adormece

Era tempo de decisões completas, e ela tão incompleta naquele desenrolar. Se via dando voltas e voltas em torno de si mesma como que buscando alguma coisa que pudesse funcionar como um retorno...procurando arrancar aquela sensação de que a vida não lhe pertencia, como quem arranca a flor que não se resolve se desabrocha ou seca antes disso, estragando o buquê.
Era tempo de decisões completas, e a noite se derramava por cima dela, lembrando-a do gosto da melancolia. Ela buscava o que não era pra ser. Ela só queria ser, cansada de tanto estar.
Aquela tarde foi decisiva pr'aquele coração. Aquela tarde tão cheia de carros e passantes era pra ela tão vazia de sentido...todos muito ocupados, com disponibilidade rasa - aquela que só cabe onde permitem os ponteiros acelerados, em conversas dispersas de telefone celular.
Ela só queria algo permanente pra amansar sua natureza. Precisava de calmaria que abraçasse sua loucura, e adormecesse o seu impulso ruim. Ela quis um abraço e se pegou ouvindo dentro da cabeça as desculpas pra ausência, pras ausências e pras mil ausências daqueles sorrisos que já eram distantes.
Meio minuto frente ao espelho e já perdia a conta de quantas lágrimas pingavam em compasso elegante. Mergulhou em seus próprios braços, que com força se apertaram em torno de si mesma. Ela precisava se amar. O espelho lhe disse isso. Ela só precisa se amar...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vejo agora que a liberdade também cansa, também exige, e que no fim das contas, também limita. É um permitir que sempre impõe certos poréns e muitas escolhas às vezes irremediáveis... A liberdade do papel não existe. É bom sair debaixo do telhado pra sentir a chuva, mas é ainda melhor ter onde se aquecer pra degustar a sensação que fica no depois. A liberdade poética não cabe no que é razoavelmente palpável...e ainda que assim fosse, afirmo crua e diretamente- ninguém aguentaria vinte e quatro horas dela.
Hoje me vejo e sou sem floreios. A vida não me deixou um fio pra puxar e tecer coisa alguma nesse momento. E desse agora eu nada espero, nem um refúgio. Me sinto dura como quem perde a última partida. Fim do jogo. Nada de belo nesse todo desperdício.
Nesse meu dia que se perdeu entre tantos outros, eu não quero nada menos que aceitação. Não vou beirar o que me corrói nem tentar avançar o tempo: hoje eu vou encher o copo até a borda.

terça-feira, 12 de julho de 2011

é o primeiro berro dolorido que te faz respirar a vida inteira...

domingo, 19 de junho de 2011

Sei, toda palavra tem peso. E peso é, às vezes, indispensável pra que tudo fique em seu devido lugar...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Perdoem-me os regiamente pagos, os que acordam cedo, os que dormem com os galos; os emoldurados, os embalsamados, os maquinários e maquinistas. Que o perdão me seja concedido pelos ocupantes dos ônibus lotados, e pelos senhores de suas ferraris bem compradas, além dos enlatados, os engomados, engravatados e os (porque não?) dados, vendidos, emprestados, rendidos, fudidos, vendados. Peço perdão, pelo espelho, aos que ajeitam orgulhosos o último fio teimoso do cabelo, aos desavisados do que é verdade, aos perdidos, aos achados, aos amadores da rotina, aos pais de família, aos que pagam impostos, aos que roubam impostos, aos que ganham, aos que ficam. Aos motoristas de táxi, aos padeiros, e especialmente a esses...
Perdoem-me os cortadores de grama, os arruaceiros de plantão, os tatuadores, os funcionários públicos, os engenheiros, e toda sorte dos que se ocupam: domadores de cavalo, doceiros, marmiteiros, chefes de casa e de cozinha, atarefados, abastados e reféns temporais, que hoje eu só quero ver o dia passar, assim, me assobiando lindo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


O vento dessa noite soprou saudade..

daquela parte encantada que encontro quando busco meu lado mais bonito (ou quando ele desperta sozinho com canto de passarinho, gelado de cachoeira, voo de borboleta)
o céu me sorria, como sussurrando uma promessa: eram as mesmas estrelas - me lembrei - e me reconheciam.