domingo, 4 de novembro de 2012

O pior vazio é aquele, preenchido de saudade.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Me peguei reclamando do calor. Reclamava dos mosquitos inexistentes do meu lugar inexistente. Sei que nada ali existiria: roupas, aluguel, o próprio nada.
Você me perguntou se podia passar um dia inteiro no meu lugar inexistente. Sim, sim. Um dia inteiro com muitas horas. E com um relógio inexistente que podia parar o tempo quando a gente quisesse, como se fosse gelatina a ser cortada pelos ponteiros. Algo real existiria ali, naquele todo inexistente? Sei que você aconteceria inteira e palpável. Sei que molharia a ponta do pé no riozinho ali embaixo e que penduraria o corpo pra fora da choupana pra procurar um barulho qualquer. E sei -vejo- que se jogaria, leve, no quadradinho sem nome ali de baixo e passaria a tarde só sorrindo e sentindo: o vento úmido, o cheiro de mato, o barulho do ninho de sabiá, o sol do fim de tarde – aquele que esquenta a pele, sem queimar.
Esse seu sorriso é que dá o tom de realidade a tudo isso.

- É o que faria o meu coração disparar -

E assim, te vendo sorrir, é que eu esqueceria qualquer coisa que me picasse: a irrealidade, o tic tac do relógio inexistente, os mosquitos esfomeados e essa saudade de verdade.
que arde e arde e arde e arde...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012


O rosto opaco evidenciava aqueles olhos brilhantes. A lua daquela noite. A lua naqueles olhos. A grama de tão seca crepitava a qualquer toque, ainda que ao macio todo daquela menina. Tudo aquilo foi entorpecente. Quente. E me tirou o fôlego. O foco. O filtro.

Sonhos vãos vão me levando pra bem longe de mim. Eu me deixo ir.

sábado, 1 de setembro de 2012

Hoje o gozo na minha mão foi o seu gosto na minha boca. E a sua boca me encheu, me preencheu, me esvaziou naquele escuro.
A lâmina fria me cortou e foi você
cada
picada
de agulha.
Me embrenhei na curva do seu pescoço e te tive na ponta dos meus dedos.
Ai. Ai.


O êxtase parou os meus ponteiros molhados. Se estendem, despidos, todos os segundos.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Queria te dizer do amornamento bom que eu tive no peito quando te escutei falar. - A sua voz era a voz do mundo, minha vida; do meu mundo devastadamente seco se molhando de chuva fresca e viva.



Eu me roí de dentro pra fora, fui canibal de mim mesma, essa noite. Na ânsia de me machucar o quanto te machuquei foi que eu sangrei minhas entranhas, mordi a minha língua, me revirei do avesso até ficar completamente vulnerável. Sofri, amor, sofri. Então virei e dormi ali, nua, bem em cima da sua ausência.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

redemoinho

Meu olhar me olhando, sou eu olhando o meu olhar me olhando, que olha aquele olhar medonho, que insiste em manter o olhar. O Olhar que me olha do olho que é meu, é meu olhar entrando no olho que é o meu olho, que olha o olhar que me olha. -Direto e fundo- mantenho o olhar.
Algo me despertou daquela letargia. E eu pude ouvir em uníssono, corpo e alma pedindo paz.
Eu vivia uma paz criada e insuficiente. Algo impuro usando uma auréola de metal presa às asinhas de isopor.
Uma sensação de haver um emaranhado de angústias adormecidas me tornando quase chumbo quando eu só queria ser nuvem, ainda que cumulonimbus.
Então eu quis, e quis de verdade, trocar minhas roupas todas por brancas, tirar a maquiagem, esquecer os sapatos no armário. Eu quis -eu precisava, sabia desde sempre- aquela paz de verdade.
Foram tantas incontáveis vezes que me deixei agir como um animal instintivo, e pior, administrei meu orgulho em doses cavalares e corriqueiras. Eu queria mais e tinha sempre menos. Me sinto DURA, ENRIJECIDA.

Preciso de algo que me tome por inteira- hoje sou só fragmentos...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Não me venha falar de nó-aperto algum, como se como irmão eu não o reconhecesse. Do que vivi no amargo daquela vida toda, você só sente o cheiro; é o ocre da peixaria que voce não sente enquanto come seu badejo no jantar, é a maresia que descama a pintura do seu carro mas você não sente o sal, se passa a língua nos lábios.

-Palavra por palavra, lágrima por lágrima, até que tudo aquilo houvesse acabado e dentro de mim só restasse osso, ar, escuro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Passei o dia inteiro no parapeito da minha janela e conclui, magistralmente:
-a cidade precisa de chuva.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Chega de máscaras, quadros e espelhos

Eu quero a alma pura e ilesa,
livre de qualquer rastro de falsidade e desespero...






2005, imagino eu
O meu amor vem de mansinho
Tange a loucura e plana paralelo.
Como a névoa que se instala passiva:
Receoso, mas pulsa ritmado.
Pesada.
vazia.
leve?não.
pesada.
cheia?não.
vazia.
han?
É, eu.
Meus pés são dois barcos sem motor, lançados ao mar ao sabor do vento (correndo o risco eterno de se perderem um do outro)
e meus olhos, as estrelas mais longínquas desse meu rosto cor de céu
Os postes dessa avenida larga são a luz das minhas idéias - pequenas, espaçadas e difusas, mas numerosas
Todas as cavernas submersas simbolizam a minha fecundidade
e os peixes todos, os filhos que terei.
Os assassinos mais procurados fugiram pra casar com meus medos
Os executados choram em meu velório minha morte prematura
Os abortados são minha gargalhada presa de criança e meu ímpeto de correr numa brincadeira improvisada (ou das dores, da rotina, do nada)
As lágrimas que se lançam dos meus olhos são os desesperados suicidas; e os esquecidos, minha verdade imaginada.
Todos os albuns em preto e branco envelhecidos eram minha memória- que já nao é
e minhas doces palavras tem o peso de uma chuva de granizo.

Minha sina é ser de tudo um pouco e não me conter em mim
A minha alma não cabe no corpo ao qual foi designada.

domingo, 24 de junho de 2012

Eu estou surda para as vozes do mundo. E sigo, muda, com as vozes de mim.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu tava ali naquele breu, sentindo o peso dos braços em cima do diafragma - sobe...desce.
Me encarei. Eu não vi o que a menina viu no espelho doze anos atrás, enquanto machucava a madeira no espelho. Mas eu me vejo na caneta derrapando e deixando meia linha em branco de costume no caderno.
Tudo em mim - passado, presente e futuro.
Uma ânsia diagnostica minha pouca estabilidade emocional. Eu tentei uma tal de dissociação da realidade que falhou e me trouxe até aqui.
Eu tava ali naquele breu, cutucando um machucado. Eu sabia onde tudo ia dar, mas fui pé ante pé. E vou. E corro o risco. E pago pra ver...pago.
Acho que o preço foi alto demais...a liberdade, o não-voltar-atrás. Vomito o que me vem em bolas de pêlo repetidas. A minha impaciência, a juventude gasta...
O vento batendo no rosto me lacera o orgulho, as luzes da cidade me cegam, o que era transviado se acalmou e eu me vejo buscando nos bolsos ingressos de um filme qualquer. Eu sequer gosto de drama - penso - mas me calo com meia dúzia de pipocas.
A luz do celular piscando no breu, eu procurava... (era qualquer coisa piscando em mim? nada...)