terça-feira, 25 de outubro de 2011

adormece

Era tempo de decisões completas, e ela tão incompleta naquele desenrolar. Se via dando voltas e voltas em torno de si mesma como que buscando alguma coisa que pudesse funcionar como um retorno...procurando arrancar aquela sensação de que a vida não lhe pertencia, como quem arranca a flor que não se resolve se desabrocha ou seca antes disso, estragando o buquê.
Era tempo de decisões completas, e a noite se derramava por cima dela, lembrando-a do gosto da melancolia. Ela buscava o que não era pra ser. Ela só queria ser, cansada de tanto estar.
Aquela tarde foi decisiva pr'aquele coração. Aquela tarde tão cheia de carros e passantes era pra ela tão vazia de sentido...todos muito ocupados, com disponibilidade rasa - aquela que só cabe onde permitem os ponteiros acelerados, em conversas dispersas de telefone celular.
Ela só queria algo permanente pra amansar sua natureza. Precisava de calmaria que abraçasse sua loucura, e adormecesse o seu impulso ruim. Ela quis um abraço e se pegou ouvindo dentro da cabeça as desculpas pra ausência, pras ausências e pras mil ausências daqueles sorrisos que já eram distantes.
Meio minuto frente ao espelho e já perdia a conta de quantas lágrimas pingavam em compasso elegante. Mergulhou em seus próprios braços, que com força se apertaram em torno de si mesma. Ela precisava se amar. O espelho lhe disse isso. Ela só precisa se amar...