terça-feira, 5 de março de 2024

o castelo

Se eu sorrir daqui. Cê me lê?

Se eu te acenar. Cê me vê? 

Tô guardando fôlego, internalizando. Tô me perguntando. É você? 


segunda-feira, 25 de setembro de 2023


Como negar a realidade,
se era ela que batia nas portas do seu peito?
Era talvez, uma perdida
Era talvez feita do que se faz o caos quando acontece,
era a propria desorganização, como sentia que tudo em si agora acontecia.
Não sei falar sem que tudo me embaralhe.
São só palavras.
Repito pra mim, sou só palavras.
Desembaraça, nó no peito, que quero ir embora.
Me quero solta, sou furacão.


São só palavras, coração, não arde tanto, não me faz parar
Não mais se alarde com essa confusão
Que eu te confesso que dói hoje como nunca
Quero buscar, preciso sair, me traz a chuva desse verão!
Meus dedos endurecidos procuram as teclas querendo gritar. Mas já não gritam, estão frios demais.
Sinto um novelo me emaranhando, as frases feitas ecoam tanto, que não sobra espaço pro que quer dançar.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Muito barulho

Eu nem sei. Essa é a mesma rede. Verde. Verde. E eu o que sou? O mesmo espaço em branco. Melancolia. Saudade do que não sei. Nostálgica. Ocre. Embaçada num frio inesperado. Camada densa de poeira sob os pés. Algo me trava. Entrave. Engasgo. Solidão. Trilha sonora de uma mente de lembranças. Expiração de um hálito embriagado de esperança interrompida. Arco íris de cores misturadas, opacas e densas. A correria de um dia que não acaba, entrecortado pelas noites maldormidas. Embalo de uma poesia musicalizada que dói no fundo. Frio que corta e que não quero dissipar. Me sinto viva. Pés dentro do rio. Correnteza acentuada de dentro para fora. Onda imensa de imensidão. Profusão. Eu. Aqui e agora e ainda assim ali e até antes e perto do até já e de depois. Rabisco que não virou desenho, lampejo que jamais se concretizou. Trilha arranhada de uma estrondosa mente de lembranças. 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Gole seco

Lembrei de um dia que eu li que tudo o que não pode ser, é poesia, e hoje amanheci poeta. 

Tudo o que tem que ser tem uma força imensa, mesmo. Tudo o que não pode ser, também. 

E é bonito e triste como quando canta um pássaro sozinho. 

E dói como um corte de lâmina fria que nunca, nunca, nunca cicatriza. 

Queria ser andorinha, essa manhã, e saber voltar pra casa, como quem conta uma história de partidas, regressos e porto seguro. 

Mas hoje eu sou só silêncio, ninho vazio e uma imensa escala de cinza.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019


Eu tenho o amor bordado bem dentro do olho, e minha sombra se move em colorido. Me deixo ver, me deixo ser.
Conto minhas cicatrizes e desesperos bonitos e eles contam de mim pro mundo. Pros que podem me ver, me ler, me despir de conceitos prontos.
E então eu assumo a minha forma bonita, de dançar desarrumado com as folhas secas de setembro. E de piscar em sintonia com as borboletas fugidias.
Se você sabe me ver, eu integro a vista bonita da janela. Se pode me ler, minha voz tem som de amarelo.
E se puder me despir, o faça com cautela, que a noite é manto quente pro meu pontilhado infinito de estrelas

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Uma noite insone sob a tela acesa
Meus olhos correm quarto, sala e copa
e só descansam na varanda
no balanço da rede verde.
O quadradinho de céu se estende infinito mas eu consigo contar as estrelas.
Pingam as gotas da chuva de ontem nas folhas da nossa pitangueira - sem frutos e de sonhos pendurados.
No caminho de pedras e nas plaquinhas coloridas e até na roupa estendida que eu esqueci de tirar, descansam as minhas janelas.
O cacto cresceu demais e as folhas caem secas da trepadeira, fazendo cama pros tocos dos cigarros fumados a quatro mãos e duas bocas.
O vai e vem da rede embala meus pensamentos soltos que passam pelo mar - casa da saudade- e pela rua escura, lampejo de solidão.
Eu me levanto e tomo um banho quente.
Me sinto evaporar nos beijos que não te dei por puro cansaço. Me seco tentando aplacar o fogo que arde e não queima pelo tempo que anda apressado e me derramo ao seu lado no ninho que a gente fez e que me cabe de novo e sempre mais uma vez.
Que o dia amanheça, que a noite anoiteça que o mundo continue sendo mundo até que a gente acerte os ponteiros e consiga se reencontrar no mesmo espaço e no mesmo tempo e reinvente o laço.
Ainda assim te sinto aqui, e é doce a presença mesmo nos sussuros abafados, na pressa incansável de fazer o dia ser dia e a vida ser.
Às vezes, se eu fecho os olhos e vejo a cena, eu me sinto como no dia em que havia uma grama, uma chuva e nós, brincando de só existir no segundo e no segundo seguinte, e no seguinte...
Mas a vida é construção.
É o amor deitado embaixo das cobertas quando minha perna encosta na sua e a gente se deixa ficar.
É o choro do filho que pede o nosso colo e o almoço de domingo que a gente ficou de combinar.
E é por isso que eu sei que o meu quadradinho de céu só é meu porque é nosso, e que a rede só me embala assim porque eu sei que dali a pouco eu estarei ao seu lado.

domingo, 15 de maio de 2016

Nem tudo o que se constrói é realidade. Às vezes essa, dura, chega como uma pedra e coloca tudo no seu devido lugar. Não sei se gosto dessa lucidez mas eu a respeito e enfio meu rabo entre as pernas. Fico em silêncio. Sou questionada. Não sei bem o que dizer. Como explicar aquilo que a mim se apresenta pedindo segredo? Nem sei agora como descrever.  Sei que no fundo, por mais que eu queira dizer que é aqui e agora, ainda não encontrei o lugar. Tampouco o tempo é aquele que imaginei (e me enganava). Não sei como agir. Minha cabeça de tão cheia ficou oca, oca, oca. Pra onde a gente foge quando não tem pra onde ir?