Se eu sorrir daqui. Cê me lê?
Se eu te acenar. Cê me vê?
Tô guardando fôlego, internalizando. Tô me perguntando. É você?
Se eu sorrir daqui. Cê me lê?
Se eu te acenar. Cê me vê?
Tô guardando fôlego, internalizando. Tô me perguntando. É você?
Eu nem sei. Essa é a mesma rede. Verde. Verde. E eu o que sou? O mesmo espaço em branco. Melancolia. Saudade do que não sei. Nostálgica. Ocre. Embaçada num frio inesperado. Camada densa de poeira sob os pés. Algo me trava. Entrave. Engasgo. Solidão. Trilha sonora de uma mente de lembranças. Expiração de um hálito embriagado de esperança interrompida. Arco íris de cores misturadas, opacas e densas. A correria de um dia que não acaba, entrecortado pelas noites maldormidas. Embalo de uma poesia musicalizada que dói no fundo. Frio que corta e que não quero dissipar. Me sinto viva. Pés dentro do rio. Correnteza acentuada de dentro para fora. Onda imensa de imensidão. Profusão. Eu. Aqui e agora e ainda assim ali e até antes e perto do até já e de depois. Rabisco que não virou desenho, lampejo que jamais se concretizou. Trilha arranhada de uma estrondosa mente de lembranças.
Lembrei de um dia que eu li que tudo o que não pode ser, é poesia, e hoje amanheci poeta.
Tudo o que tem que ser tem uma força imensa, mesmo. Tudo o que não pode ser, também.
E é bonito e triste como quando canta um pássaro sozinho.
E dói como um corte de lâmina fria que nunca, nunca, nunca cicatriza.
Queria ser andorinha, essa manhã, e saber voltar pra casa, como quem conta uma história de partidas, regressos e porto seguro.
Mas hoje eu sou só silêncio, ninho vazio e uma imensa escala de cinza.